sábado, 22 de junho de 2013

Gabriela, Cravo e Canela


  "Gabriela, Cravo e Canela" figura, com muito mérito, entre os clássicos da literatura brasileira. Embora o começo do livro pareça se arrastar um pouco, talvez se prolongando demais em fatos que nos parecem irrelevantes a princípio, tudo que é narrado tem seu motivo. Jorge Amado trata de temas, nessa obra, naturais do homem, e os entrelaça e nos mostra que tudo está conectado: amor, política, sexo, honra, razão, dinheiro. Em diversos momentos, nos deparamos com a comparação destes; qual deles teria maior peso? Vale a pena conseguir a honra em detrimento do amor? E contrário?
  As prioridades do homem, como indivíduo e como membro da sociedade, são colocadas na balança e submetidas a uma divertida análise na narrativa cheia de lirismo de Jorge Amado. Os personagens que nos são apresentados são, em todos os aspectos, humanos. De uma maneira leve, o autor nos apresenta, profundamente, os pesamentos e sentimentos de cada personagem, o que leva a um nível muito superior de compreensão e participação do leitor na trama.
 Vive-se Ilhéus. Vê-se a praia, sente-se o cheiro do mar, o gosto dos quitutes do bar Vesúvio.  Despido de qualquer miticismo, de qualquer clichê narrativo, "Gabriela" nos traz as pessoas e suas vidas, com grandes amores - mas nem sempre finais felizes -, com problemas e intrigas - e nem sempre soluções. É um livro que apresenta a vida como de fato é.
  A obra aborda também um tema muito interessante, eternamente polêmico, e o qual, pessoalmente, me agrada muito: Mudanças. Mudança na sociedade, na cidade, nos costumes. Progresso, depravação, avanço, retrocesso - como pode uma mudança na política afetar uma pessoa intimamente, como indivíduo? Mudanças externas podem afetar nosso próprio pensamento? O quão adaptável é o ser humano - e quão adaptável é o mundo a ele?   Outra questão importante levantada pela obra é: Até onde uma pessoa pode mudar por amor? Vale a pena? Em que ponto se deixa de ser você mesmo, e até onde são apenas pequenas concessões? Quando abre-se mão de si mesmo por um espaço no coração do outro? - e mais importante, é possível ser feliz assim?
  E no meio de tudo, temos Gabriela, a mulata sensual, criança vivida. Gabriela talvez, por si só, desencadeou grande parte das mudanças ocorridas em Ilhéus no decorrer da obra. Muda Nacib, muda os costumes, muda-se por inteira e se reencontra no final. Apesar de se passarem muitas páginas antes de seu primeira aparição, Gabriela se encontra em cada parágrafo: é a alma do livro. Gabriela se encontra em cada personagem, no autor e no leitor. Gabriela é a criança dentro de nós, nossos desejos escondidos, nossos medos e anseios. Gabriela é a mudança, a permanência.
  "Gabriela" é cravo e canela, é Gabriela.


Um comentário:

  1. Amei a resenha! E fiquei curiosa sobre o livro, para conhecer Gabriela e pensando em todas as indagações que foram feitas. Mas tenho que terminar "Dona Flor e seus dois maridos" antes de me aventurar em outra obra do Jorge Amado. Ou não né? rs É que largar obras no meio me deixa inquieta... :/
    De qualquer forma a resenha está maravilhosa e com certeza me despertou vontade de ler o livro.
    Beijos! Van

    ResponderExcluir